quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Pelo Drama! Não! Pelo Espectador!


Eu li um artigo que achei polêmico, mas traz uma verdade, sim, o extremo experimentalismo, hermético, incomunicável, no mal sentido!!!!!, vazio de conteúdo, torna-se vazio também na forma, citando Peter Szondi, que cita Hegel... Eu tenho preguiça, muita... Existem várias formas de dramas e nem tudo é pastiche novelesco enlatado...Eu gosto de boas histórias, de jogos narrativos e de uma desconstrução que sabe o que é ser inteiro para ser desconstruído, como dizem os pós-modernos como Lyotard... O problema não são três horas de peça ou o uso da tecnologia, mas o pedantismo das linguagens que não sabem se sustentar. O "ostrascismo dos teatros vazios" me soa como uma polêmica, que patina sob nossos tetos de vidros: todo mundo culpa alguma coisa e os artistas cheios de ego dizem que são "artistas"... (blah...que novidade!) e que não precisam ser compreendidos... Me poupe! Sabemos que a comunicação na arte é de outra ordem, sim: pela percepção e experiência e batatinha quando nasce se esparrama pelo chão... Acho importante SIM proporcionar experiência para o espectador!!!! Não produto enlatado de consumo, não estereótipos vazios de "espetacularzinhos" descolados, nem "lambanças" que queimam o nobre nome da performance, e que ao meu ver é uma coisa radical! Mas proporcionar uma ação de TEATRO, que rompe linguagens, que se utiliza do drama de maneira criativa, ou não, que performa politicamente, que busca, que dialoga, e que fode com o espectador no bom sentido!

Filme Quem tem medo de Virginia Woolf? de Edward Albee, de 1966
Elizabeth Taylor e Richard Burton.
A imagem apresenta de modo grosso o contraste entre o patético,
a emoção, a ironia, aspectos do drama tradicional. 


Artigo: 
O drama do teatro Artes dramáticas fracassaram com público jovem
Diz autor escocês; brasileiros discutem crise GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO Expoente de geração que combateu tradições do teatro europeu, o dramaturgo escocês Anthony Neilson teme que o experimentalismo tenha sido um tiro no pé, afastando público, especialmente entre os jovens. Ele se refere, principalmente, à falta de repercussão de obras. O autor diagnosticou a crise e falou sobre o "envelhecimento" do teatro num bate-papo na semana passada em São Paulo e, também, em palestra na última terça no teatro do Sesi. Na opinião de Neilson, as artes dramáticas, ao lado de outros campos de expressão, não conseguiram usar a tecnologia para gerar debates internacionais. Hoje, ele compara, é fácil ter acesso a músicas pela internet, filmes são lançados em cópias, a literatura também criou plataformas digitais. Mas o teatro, artesanal por natureza, patina isolado em nichos de especialistas e pequenas plateias. "É possível transmitir peças por internet, mas quem quer ver um espetáculo pelo computador? Não estamos atingindo os jovens, e isso me preocupa", disse a uma plateia repleta de dramaturgos. "É importante ter o background da música, ser entretenimento. Não estamos nos comunicando da forma correta. Estamos fazendo peças de três horas, e isso nem sempre é preciso. Quem vê duas peças chatas de três horas não volta. A sensação é de ter sido molestado", brincou. Menos preocupado com o número de cabeças em suas plateias do que com um possível esvaziamento do experimentalismo, Antunes Filho tem opinião similar à de Neilson. "O teatro estava atrasado, e hoje está ainda mais." Para o diretor, a incansável busca pelo estilhaçamento do drama -o afastamento do objetivo puro e simples de contar uma história- caiu em um cenário vazio. "Essa calamidade pós-dramática insuportável, chata, aborrecida, provou-se que não dá mais", diz. Antunes brada contra à proliferação de cartilhas que incentivaram excessos do teatro autorreferencial. CONTRA A REALEZA Neilson pertence a uma geração que tentou aproximação com jovens por meio da renovação de linguagem e de proposições temáticas ""e admite não ter tido tanto êxito. Fez parte do chamado In-Yer-Face, grupo que abrigou, entre outros nomes, Mark Ravenhill, autor do niilista "Shopping and Fucking", com seus personagens jovens sem perspectiva. E também Sarah Kane, dramaturga que se matou em 1999, aos 28 anos, e tornou-se mito por sua peça "4.48 Psychosis", sobre depressão. Negar o passado e as tradições do teatro inglês ("ainda associado às instituições reais do país", diz o autor) também estava na lista de deveres. Só que, dez anos depois, a crise permanece. "Interatividade hoje é a palavra de ordem, mas, no teatro, ela assusta", conclui. Pesquisa de julho do Datafolha mostra que, em São Paulo, quem mais vai ao teatro tem entre 16 e 40 anos. Mas o número de quem não frequenta é alto em todas as faixas etárias. João Fonseca, diretor de peças como "Rock in Rio" e "Cazuza", acha que o teatro tem "dificuldade para entrar na casa das pessoas, como faz a música". Também é uma arte que não se associou a um tipo específico de vida social. "Jovens procuram programas onde podem paquerar." Leonardo Moreira (autor e diretor da nova geração, vencedor de dois prêmios Shell) diz que, na aproximação, não pode haver "olhar paternalista". "Não dá para nivelar por baixo. E não podemos menosprezar a capacidade de entendimento dos jovens."

DRAMATURGIA BRASILEIRA OU DRAMATURGIA EIXO RIO-SÃO PAULO?


[PENSAMENTO]
Fico intrigada com algumas coisas sobre dramaturgia e sempre digo que quero e vou mudar o mundo. Esses dias, lendo e relendo sobre o Teatro Brasileiro – em primeiro lugar, a partir do estudo do livro Teatro Contemporâneo no Brasil, do minucioso e criativo professor Doutor José da Costa (Unirio) e, em segundo lugar, a partir da leitura da revista Bravo, edição especial do Teatro Brasileiro,que considerei concisa e crítica, ao mesmo tempo (obrigada, Luísa), além da minha formação teatral e de dramaturga –, pensei que será oportuno levantar a seguinte enquête: Teatro Brasileiro só existe mesmo no eixo Rio-São Paulo? Sabemos muito bem que, historicamente e culturalmente, o sudeste é sem dúvida o lugar de formação, permanência e fomentação das atividades intelectuais, humanas e artísticas do país: as pesquisas na área de memória, arquivamento, publicação e apoio às ciências humanas é radicalmente oposta em relação a outras regiões. Podemos ver por exemplo que a maioria das publicações de pensamento sobre artes cênicas se originam de São Paulo. Digo e afirmo, todo esse conhecimento histórico-artístico deve ser gerenciado e discutido, e mantido ao longo dos tempos, principalmente, na formação dos nossos artistas cênicos do futuro. Devemos saber sim que foi Anchieta, quando o Brasil começou a se profissionalizar no Teatro, saber quem foi e o que significou Oswald de Andrade, Zé Celso Martinez, Arena, TBC, Nelson Rodrigues, entre outros. Mas será que com toda a ideia de internacionalização, descentralização de pontos de vistas valorativos e hierárquicos, ainda precisamos permanecer imersos, como diz o sociólogo e teórico literário paulista Roberto Schawrz: numa ideia de subtração nacional? As áreas: nordeste, sul, centro oeste e norte, não produzem alguma dramaturgia? Gero Camilo tem que ir para São Paulo, para ser reconhecido? Pode parecer falso idealismo ou incoerência, uma paulistana à mineira como eu, dizer tais coisas... talvez seja por isso mesmo, que me considero lá, no centro intelectual, encantada com um mundo de possibilidades de experimentação e pesquisa e aqui, meio Belo Horizonte e meio Ouro Preto, criando lugares de fazer teatro, abrindo discursos locais e acreditando que o fazer artístico não tem pedestais ou deslumbramentos... Em Minas Gerais, por exemplo, muita gente não conhece João das Neves, Jota D´Angelo, Eid Ribeiro, Walmir José, esse último foi inclusive professor da UFOP e os novos Grace Passô ou Anderson Aníbal. Isso sem falar nas outras regiões do país, que devemos cada vez mais fazer um levantamento e pesquisas árduas. É evidente também que encontramos outro problema: a falta de publicação e legitimação dos artistas locais, ou seja, “santo de casa não faz milagre”. Levanto a questão: como continuar nos conectando com os contemporâneos do eixo Rio-São Paulo (porque renegar seu lugar hoje seria cair na mesma armadilha da valoração hierárquica) e, ao mesmo tempo, (re) descobrir nossos dramaturgos escondidos nas salas de ensaios e gabinetes, deste Brasil afora? Assim, como o gênio e impertinente Haroldo de Campos que desafiou Antonio Candido na sua tese O sequestro do Barroco na formação da literatura brasileira, acredito que, mesmo ainda sem o conhecimento e levantamento atual de todos os dramaturgos do Brasil, a história mostrará gênios teatrais escondidos nos lugares mais recônditos inimagináveis. E iremos lê-los, encená-los e degluti-los. E ponto.

Grande abraço a todos, sem exceção, artistas do Brasil.
Letícia Andrade

TEATRO DO TÉDIO

Retomando escritos passados quero postar este texto sobre o teatro do tédio, acho que vem a calhar hoje.


[pensamento]
Muito se fala sobre os contemporâneos e a capacidade de reinvenção dos grupos que correm atrás de investigações ousadas e vanguardistas, pós-dramáticas e performáticas. Queremos dizer muito e na ânsia de diversas linguagens herméticas e pouco comunicativas, acabamos por não dizer nada. O que seria um teatro da experiência, torna-se um libelo à chatice e ao egocentrismo do artista cênico.
Me pergunto: o que fazer? Ontem assisti um espetáculo pequeno no espaço Satyros em São Paulo, na enigmática Praça Roseveld, e sai de lá com uma sensação de que estamos andando para trás e tudo que vejo atualmente me cheira a tédio e a empacotamento artístico. No caso desse espetáculo, foi evidente que ele não está nivelado em relação às produções que atualmente estão acontecendo em São Paulo dos diretores Antunes Filho, José Celso Martinez e Cibele Forjaz, que empreenderam e continuam a causar estremecimentos nas linguagens cênicas. Mas fora isso, sobre a grande maioria das produções, o que me causa um incômodo explícito no teatro brasileiro é uma sensação de trabalhos que são legitimados pelos privilégios e "bairrismos" de cada nicho artístico e não reconhecidos objetivamente pela recepção do público.
Cada vez mais nos especializamos, e a maioria diz que faz e sabe o que é perfomance, por exemplo...
O teatro por um lado tem uma função social e por outro mantém seu caráter de experimentação de linguagens... A conversa é sempre a mesma: blá, blá...
O que fica é que todo mundo trabalha como um cão e poucos recebem a taça! Acontece um processo de tremenda chatice nos meios teatrais, que tem conseguido aterrar toda a dimensão criativa e maravilhosa da troca espontânea com o público, aos vôos de corpos vivos em ação ou palavras dançando e envolvendo nosso imaginário. Acho mesmo: Teatro é teatro e chatice é chatice. Muitos dizem que sempre será assim e que os privilégios sempre existirão. Pois eu cansei de aceitar esses "sempres" do teatro. Querer é mudar. Chega desses conflitos pequenos burgueses. Chega do teatro do umbigo. Todo mundo fala, mas tem receio de escrever. Pois tá aí o meu dizer: chega do teatro do tédio!
meu abraço aos artistas e ao público,
Letícia Andrade.
1 Junho de 2010, no aeroporto lotado de guarulhos.