sábado, 15 de julho de 2017

1º Exercício de Crítica - Gota d'Água a Conta-gotas




A cena apresentada traz um trecho da peça “Gota d’Água”, de Chico Buarque e Paulo Pontes. Realizada para a câmera, a encenação teve como locação a sala de um apartamento. Apesar de aparentemente não contar com um público presente como no teatro tradicional (visto que ninguém além dos atores aparece no enquadramento da câmera e não temos como saber se havia pessoas por trás dela), o local de visão do público foi considerado como sendo o da perspectiva da câmera, que fica parada ao longo de toda a cena.

Sendo uma apresentação para câmera e em locação real, com a iluminação do próprio ambiente (luz fria da própria casa), esta não aparenta ter função significativa como elemento de linguagem.

Os figurinos são coerentes, sendo o de Jasão uma roupa mais formal, indicando o que é mostrado pelo texto sobre como o personagem melhorou de vida; a roupa de Joana é aceitável, talvez um pouco mais arrumada do que deveria ser para alguém que está cuidando da casa (ela aparece varrendo logo antes de Jasão chegar).

O desempenho dos atores é razoável. Conseguem apresentar a cena inteira sem engasgos, porém ainda falta alguma expressividade no corpo e na voz de modo a delinear melhor a relação entre os dois personagens. Fisicamente, apesar de enfrentar Jasão tanto com as palavras quanto com uma agressividade contida, Joana ainda parece estar em situação desigual em relação a ele, quase sempre com uma tensão abaixo do que a de seu par de cena.

Quanto à movimentação e utilização do espaço, embora este seja mais reduzido do que o tamanho comum de um palco, é bem aproveitado pelos atores, que em determinados momentos utilizam o sofá e a parede como forma de opressão um com o outro. Ainda assim, faz falta uma certa poesia na movimentação, já que grande parte da cena é realizada com ambos em pé em oposição frontal, com interações físicas pontuais.

Enquanto no texto a disputa de razão sobre o passado e o presente das personagens parece em pé de igualdade, tanto a relação entre os corpos – como já mencionado – como o desfecho da cena induzem a uma interpretação de maior fragilidade da personagem de Joana, que acaba no plano baixo, jogada no chão após ser abandonada por Jasão, primeiro sofrendo e pedindo para que ele não vá, depois jurando vingança. Acredito que para um aprimoramento do trabalho seria interessante um olhar de fora, talvez uma perspectiva de direção. A cena é até bem executada, se considerarmos que os atores parecem estar em formação; porém poderia ser melhor desenvolvida através de observações que levassem em conta as forças de relação presentes no texto da peça, bem como o subtexto das personagens, trazendo para a encenação elementos mais visualmente interessantes e maior cuidado com as significações produzidas pela interpretação em si.

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