A
Cantora Careca: Um espetáculo para convidar um amigo
No
dia 31 de novembro de 2017 o programa TUI: Teatro Universidade Informação da
UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) apresentava sua versão para o
espetáculo A Cantora Careca de Eugène Ionesco.
Sendo
um dos grandes marcos do chamado teatro do absurdo, a dramaturgia segue toda a
lógica do “movimento” denominado pelo teórico Martin Esslin durante a década de
1960, diálogos sem uma racionalidade aparente, com grande presença de elementos
linguísticos que reforçam a incomunicabilidade que o autor romeno pontuava em
suas obras.
A
companhia do TUI, coordenada pelo professor Wilson Oliveira na ocasião, mantém
os pontos fortes da obra intocados, a derrisão é clara durante a montagem, a
não linearidade da dramaturgia continua apresentada, porém percebe-se a
encenação de Rafael Carvalho presente nas sutis adaptações feitas para se
atualizar, tanto em questão de época quanto em questão de local da apresentação,
respectivamente, 2017 e Brasil em relação a década de 1950 na França.
O
encenador utiliza de videomappings de Danilo Roxette para trazer elementos da
tecnologia atual para exacerbar ainda mais o caráter não lógico da peça,
projeções sobre atores com elementos da história brasileira, como a ditadura militar,
com cenas e sons de conflitos, movimentos nacionalistas além de um trabalho dos
próprios atores que bradavam falas incoerentes entre si, mas de grande potência
quando isolados, atualizam e situam a apresentação no momento histórico
presente.
É
para assistir esse espetáculo que me encontro na fila ao lado de um amigo que
não possui nenhum conhecimento prévio, seja sobre a peça, o autor ou a
dramaturgia que se seguiria. Lanço a ele uma superficial explicação sobre o
movimento e o contexto histórico do autor e da peça. Superficial tanto por
minha não especialidade no assunto como também pelos 15 minutos que esperamos
até estarmos acomodados em nossos lugares para que a peça começasse.
E
começou com extrema intensidade: atores cantam, interpretam e realizam seus
movimentos cênicos com uma carga de veracidade que vão de encontro com as
palavras aparentemente sem sentido que saem de suas bocas, o que causa um
efeito engraçadíssimo rapidamente contagiando a plateia e meu amigo que
gargalhava ao meu lado.
Assim
segue toda a encenação com pontos de relevância especial, destacados por meu
próprio amigo não especialista: a cena das anedotas e a cena do casal que é
casado e não se reconhece. Percebi a consciência de Rafael Carvalho para dar a
esses pontos cruciais da peça a importância necessária para que ficassem
marcadas no espectador, pontos que não se prendem pelo que contam
dramaticamente, mas pela força imagética, simbólica e de derrisão que carregam.
A
satisfação com que meu amigo deixou o Teatro Ouro Preto no Centro de Artes e
Convenções da UFOP, acompanhada pela minha própria, deixou claro para mim o
sucesso da encenação, mesmo com alguns problemas técnicos como atores que
nitidamente não estavam devidamente familiarizados com a iluminação
desenvolvida por Elvis Damasceno, em alguns momentos atores inclusive olham
para os refletores buscando o foco no qual deveriam atuar.
Contratempos
mínimos quando comparados com os acertos que a companhia, a meu ver, realizam
através da adaptação sutil de um texto, atualmente, visto como um clássico
moderno.
A
Cantora Careca do TUI é uma recomendação pessoal a todos, seja para pessoas
ligadas ou não ao meio teatral, e estará novamente em cartaz no dia 20 de julho
de 2018, no teatro Sesi Mariana as 19h, fazendo parte da programação do
Festival de Inverno de Ouro Preto, a entrada é franca e a classificação etária
de 12 anos.
Ficha Técnica:
Adaptação Dramatúrgica: Rafael
Carvalho e TUI
Encenação: Rafael Carvalho
Elenco: Anderson Valfré, Gabriela Antonakis, Gutto Ferreira, Josiane de Oliveira, Larissa Ribeiro, Marina Siqueira.
Confecção de Figurinos e Bigode: Raphael Modesto
Videomapping: Danilo Roxette
Produção: Gislayne Érika
Concepção de Cenografia: Rafael
Carvalho
Marcenaria: UFOP
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