quarta-feira, 11 de julho de 2018

Um espetáculo para convidar um amigo


A Cantora Careca: Um espetáculo para convidar um amigo

No dia 31 de novembro de 2017 o programa TUI: Teatro Universidade Informação da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) apresentava sua versão para o espetáculo A Cantora Careca de Eugène Ionesco.    

Sendo um dos grandes marcos do chamado teatro do absurdo, a dramaturgia segue toda a lógica do “movimento” denominado pelo teórico Martin Esslin durante a década de 1960, diálogos sem uma racionalidade aparente, com grande presença de elementos linguísticos que reforçam a incomunicabilidade que o autor romeno pontuava em suas obras.

A companhia do TUI, coordenada pelo professor Wilson Oliveira na ocasião, mantém os pontos fortes da obra intocados, a derrisão é clara durante a montagem, a não linearidade da dramaturgia continua apresentada, porém percebe-se a encenação de Rafael Carvalho presente nas sutis adaptações feitas para se atualizar, tanto em questão de época quanto em questão de local da apresentação, respectivamente, 2017 e Brasil em relação a década de 1950 na França.

O encenador utiliza de videomappings de Danilo Roxette para trazer elementos da tecnologia atual para exacerbar ainda mais o caráter não lógico da peça, projeções sobre atores com elementos da história brasileira, como a ditadura militar, com cenas e sons de conflitos, movimentos nacionalistas além de um trabalho dos próprios atores que bradavam falas incoerentes entre si, mas de grande potência quando isolados, atualizam e situam a apresentação no momento histórico presente.

É para assistir esse espetáculo que me encontro na fila ao lado de um amigo que não possui nenhum conhecimento prévio, seja sobre a peça, o autor ou a dramaturgia que se seguiria. Lanço a ele uma superficial explicação sobre o movimento e o contexto histórico do autor e da peça. Superficial tanto por minha não especialidade no assunto como também pelos 15 minutos que esperamos até estarmos acomodados em nossos lugares para que a peça começasse.

E começou com extrema intensidade: atores cantam, interpretam e realizam seus movimentos cênicos com uma carga de veracidade que vão de encontro com as palavras aparentemente sem sentido que saem de suas bocas, o que causa um efeito engraçadíssimo rapidamente contagiando a plateia e meu amigo que gargalhava ao meu lado.

Assim segue toda a encenação com pontos de relevância especial, destacados por meu próprio amigo não especialista: a cena das anedotas e a cena do casal que é casado e não se reconhece. Percebi a consciência de Rafael Carvalho para dar a esses pontos cruciais da peça a importância necessária para que ficassem marcadas no espectador, pontos que não se prendem pelo que contam dramaticamente, mas pela força imagética, simbólica e de derrisão que carregam.

A satisfação com que meu amigo deixou o Teatro Ouro Preto no Centro de Artes e Convenções da UFOP, acompanhada pela minha própria, deixou claro para mim o sucesso da encenação, mesmo com alguns problemas técnicos como atores que nitidamente não estavam devidamente familiarizados com a iluminação desenvolvida por Elvis Damasceno, em alguns momentos atores inclusive olham para os refletores buscando o foco no qual deveriam atuar.

Contratempos mínimos quando comparados com os acertos que a companhia, a meu ver, realizam através da adaptação sutil de um texto, atualmente, visto como um clássico moderno.


A Cantora Careca do TUI é uma recomendação pessoal a todos, seja para pessoas ligadas ou não ao meio teatral, e estará novamente em cartaz no dia 20 de julho de 2018, no teatro Sesi Mariana as 19h, fazendo parte da programação do Festival de Inverno de Ouro Preto, a entrada é franca e a classificação etária de 12 anos.

Ficha Técnica:

Adaptação Dramatúrgica: Rafael Carvalho e TUI

Encenação: Rafael Carvalho


Música de Cena (Concepção e Execução): Felício Godinho e Saulo Moraes

Concepção de Figurinos e Maquiagem: Jéssica Luiza Cardoso

Confecção de Figurinos e Bigode: Raphael Modesto

Videomapping: Danilo Roxette

Iluminação: Elvis Damasceno

Produção: Gislayne Érika

Concepção de Cenografia: Rafael Carvalho

Marcenaria: UFOP


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